13. Textos d'ontem - "Missão de cronista"
MISSÃO DE CRONISTA
Chegaram-me ecos de que a crónica da semana passada teria sido mal recebida por alguns membros da classe docente.
É evidente que, ao aceitar subscrever crónica semanal, pautando-me exclusivamente por critérios pessoais (como, aliás, com toda a simpatia foi frisado pelos responsáveis pelo programa em que se insere a rubrica), critérios esses apenas balizados pelo decoro e cuidados indispensáveis a quem fala pela rádio, e orientado pelo que me pareça ser de interesse público, aceitei implicitamente o risco de, em algumas oportunidades, agradar a uns e desagradar a outros e de, em outras, acontecer precisamente o inverso. E claro que descontei o de vir a acontecer que desagrade a todos. Mas isso já é outra história.
Trata-se de risco calculado, perfeitamente assumido, mesmo porque entendo correrem riscos todos quantos metem mãos a qualquer empreendimento. Quem não está disposto a corrê-los fica em casa que é mais seguro, mais cómodo até. E, daí…
Quer-me parecer, no entanto que o desagrado em que terei caído perante algumas pessoas resulta de uma menor atenção ao real conteúdo da crónica.
Os membros da classe que presumivelmente se terão sentido desconfortavelmente atingidos pelo que disse, certamente que deduziram – e, permitam, que o diga, apressadamente deduziram – que do que se tratava era de um ataque à classe. Ora, nada mais desconforme com a realidade. Jamais tal intenção orientou os meus comentários. Aquele e todos os restantes.
Desde logo, porque tenho a maior consideração pelos professores, enquanto classe profissional, como pessoas individuais. Mas também porque, conhecendo uns quantos, sei das dificuldades com que quantas vezes se debatem para exercerem plenamente a sua missão. Em outras ocasiões e em outros “fora” tive já oportunidade de os defender. E fá-lo-ei sempre que em consciência o entenda necessário e justo.
Daí, porém, a pretender-se que os professores constituam uma classe com a qual não se pode bulir, peço desculpa, mas entendo que vai um passo muito largo. Que eu não dou.
E, já agora, por que motivo terá causado engulhos uma crónica que se limitou a transcrever notícia e, relativamente a um caso muito concreto e que me pareceu caricato, a comentá-la um tanto ácida quanto jocosamente – concedo – e a dela retirar uma ilação mais do que óbvia?
Francamente, fico perplexo! E mais ainda porque entendo que os mais interessados numa crónica daquele tipo serão os próprios professores que, não afinando pelo diapasão daquele conselho directivo, entendiam ainda que a sua atitude se mostrava claramente desfavorecedora da imagem da classe. Será que este raciocínio era – é – incorrecto? Nem posso admitir tal hipótese, por absurda.
No exercício da minha profissão, considero-me pessoa honesta e cumpridora dos deveres que lhe estão cometidos. Terei, contudo, colegas que o não serão. Ora, se um dia destes verificar que é publicitada acção – ou omissão – de um ou vários colegas que, não cumprindo aquilo a que estão obrigados, chegam ao ponto de sacudir culpas próprias para costas alheias, não só não me sentirei pessoalmente atingido, nem creio que a classe deva julgar-se desconsiderada, como aplaudirei essa divulgação, precisamente porque entendo que é urgente que em Portugal as coisas se clarifiquem de vez, separando-se o trigo do joio. A igualitarização pela negativa não é aceitável.
Tudo o que vai além disto não tem importância, é especulativo, sem valor.
Estou firmemente crente de que a esmagadora maioria da classe docente me compreendeu e comigo está de acordo. Quem não deve, não teme!
Bom dia!
Ruben Valle Santos