8. Textos d’ontem - "O undécimo"
O UNDÉCIMO
Olá, bom dia!
Nós, portugueses, temos uma característica muito sui generis.
Existe na nossa idiossincrasia uma certa capacidade auto-crítica que, não obstante por vezes revestir aspectos negativos, as mais das vezes resulta extremamente salutar, por actuar como válvula de escape de terríveis tensões, quantas vezes, frustrações não menos tremendas, quase sempre.
Uma tal capacidade só tem paralelo entre os ingleses e estes talvez até um pouco mais acidamente. Na verdade, não é qualquer povo que mostra a descontracção indispensável a ironizar com as próprias insuficiências e nonsense. É preciso, na verdade, dispor de uma mentalidade muito especial.
Quem sabe se tal faculdade não resulta, em proporção directa, da circunstância de sermos um povo muito vivido e, consequentemente, bem calejado? Tal como os ingleses, somos das nações concretamente definidas há mais tempo e atirámos connosco por esse mundo fora. E de tal forma que ainda hoje por lá andamos atirados. Que venha daí quem for capaz de apontar povo mais cosmopolita do que este nosso! Pois não é verdade que fomos mesmo nós quem mais contributos deu, e mais cedo, para o conceito de “aldeia global”?
Somos, pois, um punhado de gente com características muito curiosas, das quais a de nos rirmos de nós próprios, das nossas “menoridades” e até de apoucarmos feitos nossos que outros povos muito apreciariam tereme eles realizado, não é, certamente, a de menos valia.
Por vezes, contudo, abusamos. Olá, se abusamos!
As piadas, as anedotas que, a propósito de tudo e de nada, surgem como que de geração espontânea são, quantas vezes, tremendamente injustas, precisamente porque vão muito além da realidade e não têm em conta atenuantes que há que não desprezar.
A propósito da nossa entrada na CEE – feito a que me associo com todo o gosto e muita esperança, diga-se en passant -, correm já por aí mil e uma histórias, qual delas a mais curiosa e, as mais interessantes são, quiçá, as que alguns políticos da nossa praça por vezes “contam”, frente às câmaras de televisão, com a maior candura deste mundo.
Já faltou mais, caro ouvinte!...
Vai ver que, não tarda nada, aparece por aí humorista político de primeiríssima apanha que nos dirá, com o ar mais seráfico que se imagine, que a CEE – ela toda – se impacientava pela nossa adesão que tardava e quase nem dormia de ansiedade. Por sermos nós a salvífica panaceia da Comunidade. Não fazemos por menos!
Somos um povo muito desorganizado. Em tudo, praticamente. No humor, voluntário ou não, porém, somos absolutamente imbatíveis.
O undécimo – ou duodécimo? – membro da CEE é assim. Que se pode fazer? Nada. É deixar andar que, enquanto rirmos, estaremos vivos, a mexer e de boa saúde.
Bom dia!
Ruben Valle Santos
<< Home