Monday, September 20, 2004

9. A "hora negra" e a memória deficitária...


No blog “República Digital”, do sistema de blogs da Assembleia da República, publicou, hoje, o deputado socialista José Magalhães, um post, que intitulou “O populismo antiparlamentar ao ataque”.

Faz, assim, coro com Vital Moreira que, no blog “Causa-Nossa”, sob o título “
O caso da semana: a desconsideração da oposição”, se insurge contra a circunstância de o actual primeiro-ministro não ter comparecido à interpelação parlamentar promovida pelo Bloco de Esquerda.

Entende JM que "a resistência institucional ao populismo antiparlamentar vive uma hora negra". Caso de extrema gravidade porque “como afirma VM”, “um dos requisitos essenciais de uma democracia parlamentar é a presença do governo no Parlamento para prestar contas dos seus actos (…)”.

Claro que, com estes alarme e alarido, em que, aliás, é especialista de créditos firmados, José Magalhães conseguiu chamar em seu “socorro” três ou quatro leitores que, aproveitando o ensejo que o “guru” lhes facultou, não estiveram com meias medidas e vá de zurzir Santana Lopes e mais uns quantos com invectivas várias e piropos de elegância duvidosa, chegando ao ponto de atribuir intenções ditatoriais à maioria actualmente no governo. Ridiculous!

Não fora, aliás, conhecermos muito bem a capacidade de empolameto de que José Magalhães há muitos anos faz alarde, e mesmo a sua, hábil quanto invariável, “cantata”, que lá consegue arrastar uns quantos menos avisados cidadãos, e teríamos ficado algo apreensivos com o déficit democrático do PM.

No entanto, José Magalhães, ele próprio, logo a seguir, continuando a transcrever VM, “diz” que “(…) Mesmo que a Constituição não diga expressamente que deve ser o Primeiro-ministro a comparecer na AR, desde há muito que é assim, independentemente dos governos, tendo-se criado portanto uma prática reiterada nesse sentido (…)”.

Se fôssemos a seguir religiosamente práticas bem mais reiteradas...

Ora vamos lá analisar a coisa. Eis, respeitável público, a gravíssima falta que, no entendimento de José Magalhães – socorrido por interposto articulista – Santana Lopes terá cometido: o PM não foi ao Parlamento discutir um assunto que estava mais do que debatido em praça pública, com todos os show-offs que interessavam ao BE e respectivos adereços, como a Constituição, aliás, o não obriga, mas enviou membros do governo, em cumprimento dos preceitos constitucionais. Eis, pois, a extrema gravidade de que falou VM e a que JM se ateve a mãos ambas, levando, agarrados ao capote, dois ou três incautos. Eis, enfim, a famigerada "hora negra"!

Há muitas formas de fazer política. José Magalhães já de há muito que nos habituou a esta sua. Muito peculiar, por sinal. Espremida…

Mas o que mais diverte – será que diverte mesmo, vindo de conscriptus pater? – é a falta de memória de que JM por vezes dá preocupantes sinais.

Então não é que o ilustre deputado esqueceu por completo a actuação que, precisamente neste capítulo, reiteradamente teve o então primeiro ministro, António Guterres, ainda nem vão passados três anos? E não consta que, na(s) oportunidade(s), tal opção do seu chefe lhe tenha causado apreensão semelhante.

José Magalhães parece bem precisado de ajuda farmacológica urgente, que lhe restitua a memória perdida. Lá pelos “passos”, evidentemente.

Ruvasa