11.Textos d’ontem - "O país das maravilhas"
Crónica de rádio – 21 Jan 1986
O PAÍS DAS MARAVILHAS
Olá, bom dia, amigo ouvinte!
Portugal é, sem dúvida, o “País das maravilhas”, como muito bem referia Vasco Pulido Valente numa secção que, sob aquele título, assinava no semanário “Expresso”, aqui há uns anos atrás.
Não acredita? Então, preste atenção a uns extractos de uma notícia publicada no Correio da Manhã, de 19 do corrente, anteontem, portanto. Passo a citar:
“O pai de um aluno da Escola Secundária Gil Vicente, em Lisboa, pôs à disposição do Ministério da Educação a verba necessária para custear as despesas com o pessoal menor. Isto porque, e segundo o Conselho Directivo, é devido à falta deste pessoal que a escola, que devia ter aberto no dia 6 de Janeiro, ainda se encontra encerrada.
O Conselho Directivo daquela escola explicou (…) que não foram iniciadas as aulas no segundo período, em virtude de quatro funcionários do serviço de apoio terem sido colocados, por concurso, no Ministério das Finanças, sendo agora insuficiente o número de elementos disponíveis para manutenção do funcionamento dos referidos Serviços.
Actualmente – referiu o Conselho Directivo – existem 46 funcionários na escola” (fim de citação).
Como diria alguém: Palavras para quê? Trata-se de conselho directivo português, em escola portuguesa, para alunos portugueses.
Pois bem. Sem dúvida que o Ministério da Educação não responde como seria lícito esperar-se. Mas – pergunta que parece pertinente –, será que as culpas são apenas do Ministério? Trata-se de uma brincadeira, não? De mau gosto, é certo, mas brincadeira! Querem fazer-nos acreditar que, num quadro de pessoal menor de 50 unidades, a falta de 4 (quatro!) é motivo suficiente para impedir por completo o funcionamento da escola?
Pergunto novamente: - Trata-se de brincadeira, não? E deixe-me que responda: - Não! Claro que não se trata de brincadeira. É, muito pelo contrário, caso muito sério e que obedece a estratégia bem definida e cumprida à risca, como muitos outros casos similares que se verificam diariamente por esse País fora. É boicote! Boicote puro e simples! Com uma única finalidade: desestabilizar, deitar abaixo! Quanto pior, melhor, é a divisa. Alguém tem dúvidas?
Então, o que se faz a um conselho directivo destes? É que, das duas, uma: ou é totalmente incompetente ou sabota conscientemente. Em qualquer dos casos só há um caminho a seguir, que é o de o substituir por outro mais consciente do interesse público e das próprias responsabilidades na satisfação desse interesse.
Não tenha dúvidas, caro ouvinte. Sempre que até si cheguem notícias sobre o funcionamento deficiente ou mesmo o não funcionamento de qualquer escola, fique de pé atrás e, se quiser saber quais as verdadeiras razões, busque por si próprio a maior informação possível.
Isto, para que não fique com a sensação de que está a ser manipulado. O que é desagradável, não concorda?
Bom dia.
Ruben Valle Santos
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