Tuesday, September 21, 2004

10. Textos d’ontem - "A segurança nas escolas"

Crónica de rádio – 14 Jan 1986

A SEGURANÇA NAS ESCOLAS

Olá, bom dia!

A segurança dos cidadãos deve constituir questão prioritária de quem governa, a nível local como nacional.

Isto porque, sem ela, as pessoas vivem atemorizadas, receando o pior e até os níveis de produção de uma sociedade insegura se ressentem notoriamente.

Não, não falo aqui daquele tipo de segurança que tantas vezes é invocado, para mais facilmente se coarctarem as liberdades individuais. Aí, a história é outra e é bem certo que os inconvenientes funcionam em ambas as direcções, ou seja, coarctam-se as liberdades em nome do que eufemisticamente se apelida de segurança dos cidadãos e cria-se um clima de maior insegurança porque nada é mais atentatório da quietude das gentes quanto a sufocação da ânsia de liberdade dos povos.

De qualquer modo, convém não esquecer que a liberdade de cada um jamais estará autorizada a meter em crise a segurança da comunidade. Mas esses são outros contos e não é deles que trato neste momento.

O que me preocupa agora – e estou certo de que é causa de ansiedade sua também – é a segurança dos cidadãos na verdadeira acepção da palavra. Aquela segurança que, até mais do que um facto, digamos, real, palpável, é uma sensação. Que permite que os cidadãos não passem o tempo com o credo na boca, temendo pela integridade física e moral próprias, mas, principalmente, daqueles que mais chegados lhe são.

Setúbal é, na verdade e infelizmente, uma cidade extremamente insegura. A criminalidade aumenta exponencialmente e não se vê, de há anos para cá, que qualquer medida concreta tenha sido tomada em defesa do cidadão comum, para além dos aspectos que se referem à intervenção das autoridades policiais, o que, convenhamos, é manifestamente insuficiente, tendo, por isso, que ser complementada por outras medidas de prevenção primária.

Um dos motivos que tornam a cidade insegura reside na falta de iluminação. Na verdade, a nossa terra está às escuras. Quase literalmente. E a escuridão, como se sabe, é a aliada preferencial da delinquência, da criminalidade.

É confrangedor, por exemplo, o que se verifica junto das escolas, tanto primárias, como preparatórias e secundárias.

Se o ouvinte tem filhos em idade escolar, frequentando aulas na parte da tarde, ou se, mesmo não os tendo, assistiu já ao final do dia escolar, entre as 18 e as 18,30, certamente que concorda com o que lhe digo. A escuridão que as rodeia é total. De tal modo que, no meio da multidão constituída pelos alunos, familiares que, assustados, ali acorrem em socorro dos seus meninos, e sabe-se lá quem mais, ninguém consegue reconhecer ninguém a pouco mais de três metros. O caos generaliza-se.

Quase se é tentado a ir para lá, como Diógenes, de lanterna em punho. Mas o que em Diógenes era perceptível e aceitável, em nós resultaria caricato.

Será assim tão difícil providenciar por que, ao menos nas imediações das escolas, haja iluminação minimamente decente? Não parece que seja. E as nossas crianças e os nossos jovens bem o merecem.

Bom dia, caro ouvinte!

Ruben Valle Santos