24. O perigo chinês
Têxteis chineses: até Setembro não serão accionadas as cláusulas de salvaguarda
O comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, anunciou esta sexta-feira, que vai recomendar, na próxima semana, à Comissão, a abertura de inquéritos sobre a importação de certas categorias de produtos têxteis chineses, um primeiro passo rumo ao recurso às cláusulas de salvaguarda.Em função das regras seguidas pela Comissão, as cláusulas de salvaguarda contra as importações chinesas só podem ser activadas em Setembro. (…)
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Portugal pede urgência para proteger têxteis
Portugal vai pedir formalmente à Comissão Europeia que acelere o processo de investigação ao aumento das importações têxteis chinesas. Uma posição que foi comunicada ao comissário europeu do Comércio no domingo, mas que Peter Mandelson não quis entender como oficial, tendo ontem o seu porta-voz anunciado que aguardavam, ainda, um pedido formal para poder actuar. (…)
Diário de Notícias - > desenvolvimento da notícia
Caso a Europa tome medidas para limitar exportações de têxteis chineses
Pequim adverte UE para degradação das relações comerciais bilaterais
A China advertiu hoje a União Europeia para os riscos de degradação das relações comerciais bilaterais se a UE tomar medidas para limitar as exportações de têxteis chineses.
"Esperamos que UE esteja consciente do impacte negativo que esta decisão teria", alertou o porta-voz do Ministério do Comércio, Chong Quan, num comunicado colocado no site daquele departamento governamental chinês."Esperamos que a UE se abstenha de influenciar o comércio bilateral através de medidas unilaterais", acrescentou Ching. (…)
Público - > desenvolvimento da notícia
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Sem dúvida que é de grande complexidade e melindre esta questão dos têxteis. Muita gente depende desta indústria e os preços, proibitivos por um lado, ao valor da chuva em Abril – em tempo normal - por outro, fatalmente que terão que provocar um conflito de interesses que, embora de enormes proporções por tudo quanto está em jogo, se espera que a diplomacia evite que degenere em algo mais grave do que simples trocas de acusações.
Concorrência desleal!, grita-se de uns das barricadas. Com alguma razão, pois que, em termos económicos gerais, aos países em que os direitos humanos – particularmente das crianças – no que respeita às questões laborais – são mais respeitados, torna-se extremamente difícil a concorrência em preços com regiões do Globo onde tais preocupações sociais não existem.
Temos que fazer pela vida!, proclama-se da outra parte. O que também é verdade. A Europa e os USA não podem esperar que o Terceiro Mundo continue a deixar-se subjugar aos ditames dos países desenvolvidos.
É preciso não esquecer que o avanço desenvolvimentista “ocidental” quase sempre se ficou a dever à exploração da mão de obra barata do referido Terceiro Mundo. Daí que se torne um tanto hipócrita clamar-se contra aquilo que ontem quem agora se sente lesado praticou por tanto tempo.
Trata-se, no entanto, e de ambos os lados, de uma questão em que está em jogo a sobrevivência de milhões de pessoas. Trata-se, pois, de uma assunto muito sério, que não admite distracções nem laxismos.
Por parte do cidadão comum, de que não passo, que do assunto apenas sabe o que vai seguindo através das notícias que vão chegando de vários cantos do mundo, do seu próprio principalmente, parece que uma solução negociada – que é imperioso que se alcance – terá que, como sempre, passar por algumas cedências de parte a parte.
Por um lado, da parte do Terceiro Mundo, por um abrandamento do desrespeito pelos Direitos Humanos, no que respeita à exploração da mão de obra de miséria – com especial realce, reafirmo, das crianças, trabalhadoras de escravatura das mais duras - de modo a que se não inundem os mercados com têxteis ao preço da chuva; por outro, pelo apelo aos países mais desenvolvidos, no sentido de que usem das suas melhores capacidades técnicas para uma reconversão capaz de, fornecendo artigos de qualidade superior, não ficarem tão reféns da capacidade oriental de produzir em quantidade e preço tais que tudo derrubam à sua passagem.
Está dado, pois, o lugar à diplomacia. Esperemos que funcione.
No entanto, algo causa apreensão quanto à capacidade – portuguesa, mas, pelos vistos, não apenas portuguesa – de encarar de frente esta questão, tentando resolvê-la pela melhor forma possível e com um mínimo de sobressalto.
É que, como afirmou o ministro do Comércio chinês, Bo Xilai, "A China não é a principal responsável pelo fenómeno dos aumentos brutais de exportações têxteis em alguns mercados", tendo acrescentado que ele “se deve às medidas proteccionistas que os países mantiveram durante dez anos, antes do levantamento das quotas pelos países importadores”.
Ora, sabemos que isto tem sido uma realidade, embota talvez aqui não esteja a verdade toda, como é normal que não esteja, já que numa confrontação, a razão jamais está apenas de um lado. No entanto, esta alegação será das mais fortes, seguramente. É que os países que ora se lamentam, parecem ter preferido acantonar-se nos seus redutos defensivos, com medidas proteccionistas que se sabe que um dia terão forçosamente que acabar, em vez de terem passado ao ataque, avançando na senda do desenvolvimento, até por uma questão de solidariedade universal.
Ora, esta atitude proteccionista, para mais tomada por países que se proclamam acérrimos defensores do comércio livre, no mínimo parece com um contrasenso insanável e mesmo algo inquietante.
Uma coisa é certa, também. A uma situação de conflito de interesses avançada como esta se encontra nunca ninguém chega só. É dos livros.
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