19. Deixe-se de negaças, António Borges!
Para ser inteiramente claro, ab initio, tenho que começar por dizer que subscrevo integralmente a posição assumida por Luís Delgado, quando, na coluna de opinião de anteontem, Linhas Direitas, no DN, sob o título “A moção de Borges”, afirma que este tem que avançar para tentar a liderança, sem o que não faz sentido apresentar uma moção de estratégia global.
Na verdade, assim é.
Na política não pode estar-se com um pé dentro e outro fora, numa política de seriedade não há lugar para jogos de negaças, que para esse peditório já muitos deram e quem nele uma vez participou algo terá aprendido com a experiência e, portanto, já não se mostrará muito aberto a tais jogos por detrás da cortina.
Político consequente, que aspira a ser tomado a sério, não ameaça que vai, mas acaba por não ir, não dá um passo em frente e logo outro atrás. Isso não será mais do que a revelação de espírito errático e timorato, que verdadeiramente não decide se quer ou não quer, inconsequente, portanto muito pouco coerente com a atitude responsável e de afirmação clara que é exigível a um aspirante a líder social-democrata que, sendo-o, estará sempre na calha para chegar ao topo da hierarquia do governo de Portugal.
Negaças como aquela a que estamos a assistir deixam, pois, muito a desejar, e dão, de quem assim evoluciona, uma imagem de que os social-democratas se cansaram já – esperemos que de uma vez por todas – e que, por conseguinte, in limine renegam.
Assim, António Borges tem que decidir, já, se vai disputar a liderança do partido ou não e, em caso de a resposta a esta questão ser negativa, só lhe resta um caminho: sair de cena o mais rapidamente que lhe for possível, pela esquerda baixa, deixando que outros, mais afoitos, mais frontais e, portanto, mais merecedores de confiança, dirimam entre si a honra de presidirem aos destinos do PSD. Mesmo que não tenham curriculum similar.
É que – e António Borges tem que interiorizar isso muito rapidamente, entre hoje e amanhã, diria mesmo – o PSD não merece continuar a ser cozido em lume brando por políticos de bastidores, sem coragem para se apresentarem, de cara ao sol, perante todos, como pretendentes à liderança. De corpo inteiro. Jogos de cintura e malabarismos que tais podem ser muito bons para que a Comunicação Social venda papel, mas não acrescentam nada ao partido que se diz apoiar. Muito pelo contrário, apenas servem para mais o afundar.
É preciso, pois, que António Borges se esforce por mostrar-se diferente, que seja ele mesmo – seja lá quem for – para o bem ou para o mal, e que deixe de esconder-se por detrás de cortinados mais ou menos empoeirados, pouco reveladores do asseio necessário. E que, tomada a decisão de se mostrar diferente, frontal, não tenha rebuço em levar quem o acompanha ou assessora ou incentiva a tomar idêntica atitude.
O PSD necessita, como de pão para a boca, de clareza, de frontalidade por parte dos seus dirigentes. De dirigentes que saibam para onde querem ir, com quem, de que forma e prosseguindo que objectivo. E a primeira atitude que há que tomar consiste na assumpção plena de uma candidatura integral. Porque essa coisa esquisita de se apresentar uma moção de estratégia global sem se chegar à conclusão curial e inevitável de assumir candidatura à presidência do partido, a verificar-se, constitui autêntica aberração, desvendando, por outro lado, uma linha de pensamento e actuação mais do que errática, verdadeiramente tortuosa, só não comparável às florentinices dos Bórgias por lhe faltarem, ainda – e, assim sendo, queira Deus que para sempre - a possidência e o mando.
Em boa verdade, qual a real finalidade da apresentação de uma moção de estratégia global, sem a consequente candidatura às funções que possibilitem levá-la a termo? Certamente que não estará na mente do(s) subscritor(es) fazê-la aprovar em congresso para que outros a cumpram. Seria o cúmulo da desfaçatez. E para desfaçatezes, já basta assim, como diria o baladista. Não, isso certamente que não será. Então, por que apresentá-la? Como mero exercício de retórica? Não posso crer nisso também. É demasiado pouco para quem já tanto deu a entender prometer, se bem que sem querer comprometer-se.
É isto que não pode manter-se, porque não conduz a objectivo real e mobilizador, porque apenas serve para cozer o PSD no lume brando que o conduzirá à apagada e vil tristeza, onde tentará sobreviver até que apareça alguém suficientemente capaz de o fazer regressar à condição para que nasceu e que levou a que tantos, ao longo de três décadas, muito de si dessem para que se concretizasse.
Então, é assim: deixe-se de negaças, António Borges. Aja! Com decisão e sem tergiversações, aja em consequência. Ou, então, saia do palco. Já! Se, agindo, lograr os seus objectivos e se eles forem os de levar o PSD a reerguer-se para melhor servir o País, muito bem, terá vencido e receberá o aplauso e apoio dos seus correlegionários agora e dos seus concidadãos mais tarde; se não conseguir, pelo menos restar-lhe-á a consciência de que, honesta e frontalmente, tentou, dando o seu melhor. Ninguém lhe exigirá mais seja o que for.
Mas, por amor de Deus, não faça o que Cavaco fez na Figueira da Foz. Esse é o caminho menos directo, mais curvilíneo, menos corajoso, mais antipático. E que deu frutos uma vez, por estar reunido um conjunto de circunstâncias aleatárias que agora não existe. E que dificilmente voltará a existir. Quanto a mim, ainda bem, malgré tout!
Ruben Valle Santos
2005Abril02 - 12,15h
Na verdade, assim é.
Na política não pode estar-se com um pé dentro e outro fora, numa política de seriedade não há lugar para jogos de negaças, que para esse peditório já muitos deram e quem nele uma vez participou algo terá aprendido com a experiência e, portanto, já não se mostrará muito aberto a tais jogos por detrás da cortina.
Político consequente, que aspira a ser tomado a sério, não ameaça que vai, mas acaba por não ir, não dá um passo em frente e logo outro atrás. Isso não será mais do que a revelação de espírito errático e timorato, que verdadeiramente não decide se quer ou não quer, inconsequente, portanto muito pouco coerente com a atitude responsável e de afirmação clara que é exigível a um aspirante a líder social-democrata que, sendo-o, estará sempre na calha para chegar ao topo da hierarquia do governo de Portugal.
Negaças como aquela a que estamos a assistir deixam, pois, muito a desejar, e dão, de quem assim evoluciona, uma imagem de que os social-democratas se cansaram já – esperemos que de uma vez por todas – e que, por conseguinte, in limine renegam.
Assim, António Borges tem que decidir, já, se vai disputar a liderança do partido ou não e, em caso de a resposta a esta questão ser negativa, só lhe resta um caminho: sair de cena o mais rapidamente que lhe for possível, pela esquerda baixa, deixando que outros, mais afoitos, mais frontais e, portanto, mais merecedores de confiança, dirimam entre si a honra de presidirem aos destinos do PSD. Mesmo que não tenham curriculum similar.
É que – e António Borges tem que interiorizar isso muito rapidamente, entre hoje e amanhã, diria mesmo – o PSD não merece continuar a ser cozido em lume brando por políticos de bastidores, sem coragem para se apresentarem, de cara ao sol, perante todos, como pretendentes à liderança. De corpo inteiro. Jogos de cintura e malabarismos que tais podem ser muito bons para que a Comunicação Social venda papel, mas não acrescentam nada ao partido que se diz apoiar. Muito pelo contrário, apenas servem para mais o afundar.
É preciso, pois, que António Borges se esforce por mostrar-se diferente, que seja ele mesmo – seja lá quem for – para o bem ou para o mal, e que deixe de esconder-se por detrás de cortinados mais ou menos empoeirados, pouco reveladores do asseio necessário. E que, tomada a decisão de se mostrar diferente, frontal, não tenha rebuço em levar quem o acompanha ou assessora ou incentiva a tomar idêntica atitude.
O PSD necessita, como de pão para a boca, de clareza, de frontalidade por parte dos seus dirigentes. De dirigentes que saibam para onde querem ir, com quem, de que forma e prosseguindo que objectivo. E a primeira atitude que há que tomar consiste na assumpção plena de uma candidatura integral. Porque essa coisa esquisita de se apresentar uma moção de estratégia global sem se chegar à conclusão curial e inevitável de assumir candidatura à presidência do partido, a verificar-se, constitui autêntica aberração, desvendando, por outro lado, uma linha de pensamento e actuação mais do que errática, verdadeiramente tortuosa, só não comparável às florentinices dos Bórgias por lhe faltarem, ainda – e, assim sendo, queira Deus que para sempre - a possidência e o mando.
Em boa verdade, qual a real finalidade da apresentação de uma moção de estratégia global, sem a consequente candidatura às funções que possibilitem levá-la a termo? Certamente que não estará na mente do(s) subscritor(es) fazê-la aprovar em congresso para que outros a cumpram. Seria o cúmulo da desfaçatez. E para desfaçatezes, já basta assim, como diria o baladista. Não, isso certamente que não será. Então, por que apresentá-la? Como mero exercício de retórica? Não posso crer nisso também. É demasiado pouco para quem já tanto deu a entender prometer, se bem que sem querer comprometer-se.
É isto que não pode manter-se, porque não conduz a objectivo real e mobilizador, porque apenas serve para cozer o PSD no lume brando que o conduzirá à apagada e vil tristeza, onde tentará sobreviver até que apareça alguém suficientemente capaz de o fazer regressar à condição para que nasceu e que levou a que tantos, ao longo de três décadas, muito de si dessem para que se concretizasse.
Então, é assim: deixe-se de negaças, António Borges. Aja! Com decisão e sem tergiversações, aja em consequência. Ou, então, saia do palco. Já! Se, agindo, lograr os seus objectivos e se eles forem os de levar o PSD a reerguer-se para melhor servir o País, muito bem, terá vencido e receberá o aplauso e apoio dos seus correlegionários agora e dos seus concidadãos mais tarde; se não conseguir, pelo menos restar-lhe-á a consciência de que, honesta e frontalmente, tentou, dando o seu melhor. Ninguém lhe exigirá mais seja o que for.
Mas, por amor de Deus, não faça o que Cavaco fez na Figueira da Foz. Esse é o caminho menos directo, mais curvilíneo, menos corajoso, mais antipático. E que deu frutos uma vez, por estar reunido um conjunto de circunstâncias aleatárias que agora não existe. E que dificilmente voltará a existir. Quanto a mim, ainda bem, malgré tout!
Ruben Valle Santos
2005Abril02 - 12,15h
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