Friday, May 27, 2005

28. Logo pela fresquinha... Venham mais dessas...

Chega, logo pela manhãzinha, notícia fresquinha, justificadora de algumas maldades, designadamente a de subir o IVA, que era dos tais impostos que, há apenas dois meses, jamais subiria...

As receitas que hão-de ser arrecadadas com a subida do Iva servirão para tapar o buraco das "scuts".

Grande Sócrates! E não vai um niquinho de sicuta nem nada, homem?...

Ora aqui está um caso em que se torna bem difícil gostar de quem nos quer mal.

* * *

Foi tão pela fresquinha, tão pela fresquinha que meti o pé na argola...

Lá em cima, onde se lê IVA deve ler-se ISPP, ou seja, Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos.

Agora, que regressei a casa, apresso-me a corrigir o lapso. Tudo o resto que escrevi se mantém inalterado.

A história das scuts e do ISPP significa, pois, coisa interessante:

* Que eu, que quinzenalmente utilizo, por duas vezes, uma "scut", a A23, vou pagar por ela tanto


* quanto aqui o meu vizinho, que nunca a utilizou, nem sabe que ela existe,

* e tanto quanto o meu primo, que vive lá na região e que, embora tendo várias vias alternativas, com bom piso, não as usa porque tem a "scut" diariamente, e várias vezes por dia, de borla.

Isto é moralidade ao socialist way.

Mas há mais:

A fundamentação socialista para a existência das "scuts" é a de que as pessoas do interior têm condições de vida mais difíceis e, portanto, há que compensá-las.
Sem querer ofender, trata-se de uma verdadeira fábula. Só de congeminação socialista tal argumentação poderia ter saído.

Digo aqui abertamente e com todas as palavras. É falso! É falso que as pessoas do interior e que utilizam as "scuts", vivam em piores condições do que as das zonas urbanas do Porto e de Lisboa. Falso como Judas. Mais falso do que Judas.

Vivo em zona urbana (felizmente sem apertos económicos), sabendo as dificuldades com que as pessoas se defrontam para levar por diante uma existência minimamente condigna.

O que gastam com transportes, portagens, roupa que vestem, calçado, refeições que têm que tomar fora de casa, só para irem trabalhar todos os dias, constituem verdadeiras fortunas. Essas, no entanto, não têm que ser compensadas de nada. Na teoria - e prática - socialista são carneirada que há que tosquiar o mais possível.

As que vivem no interior, que sei como vivem, pois que estou lá a cada semana que passa, que exibem melhores posses do que as minhas (e, garanto, tenho rendimentos mensais um bocado acima da média...), essas, sim, na teoria socialista têm que ser compensadas!

E de que é que têm que ser compensada? Da interioridade? E quem, em Lisboa, por exemplo, vive na Vila Maria, ali à Graça, com casas a cair, não tem que ser compensada da precariedade de vida? E as pessoas que vivem em Vila Franca de Xira ou em Palmela ou em Almada ou no Fogueteiro ou em Sesimbra ou em Oeiras ou na Parede ou em Queluz ou em Belas e que têm que acordar às 5 da manhã, para lavar e vestir os filhos e levá-los ao infantário (que pagam...) antes de irem, em lufa-lufa a correr, para, quatro horas depois chegarem a tempo ao trabalho, em Lisboa, enquanto no interior - à hora a que, em Lisboa ou arredores, se corre desalmadamente para não perder o autocarro - o cidadão se vira na cama para dormir mais um bocado, pois que 5 ou 10 minutos lhe bastam para chegar a horas ao emprego, de que regressará a casa para almoçar e à tardinha para lanchar e, depois, jantar em sossego? Não têm que ser compensadas da miserabilidade da vida que levam, da dor de não poderem assistir ao crescimento dos filhos que só poderão ver, uma ou duas horas, à noite, quantas vezes nem isso, pelo facto de os miúdos estarem já a dormir quando chegam a casa?

Dou um exemplo, passado comigo, enquanto trabalhava, até 1999. Vivendo em Setúbal, para ir trabalhar em Lisboa, gastava - só por esse facto e não entrando em linha de conta com despesas com vestuário a que se é obrigado para ter uma apresentação minimamente digna, que em Lisboa é mais exigente do que na província - entre 60 e 70 contos mensais. Há mais de 6 anos... Andei nisto de 1989 até 1999, dez anos, portanto. Mas há quem o faça há bem mais tempo.

Governos socialistas são mesmo assim. Não têm emenda.

Isto, para não vir agora aqui (que não vem directamente ao caso... e, daí, tudo vem ao caso...), com a história do ataque que sempre fizeram aos governos anteriores por tanto se preocuparem com o deficit, quando, nas palavras do "supremo magistrado da nação", "a vida não se esgota no deficit".

Sim, nessa altura, a vida não se esgotava no deficit. Nas doutas palavras de Sua Excelência.

Agora, porém, sim, esgota-se, não é verdade, sr. dr. Sampaio? Como não diz nada, concordando com o que está a passar-se, estará de acordo. Então, o que há três meses era, agora já não é?

Curiosamente, porém, nessa altura existia sobre a cabeça dos países membros da UE a espada de Dâmocles das terríveis sanções, ano após ano, no caso de os 3% não serem respeitados.

Agora, porém, já não há essa desculpa. Porque tais sanções foram levantadas até 2008. No entanto, Sua Excelência o presidente da república que temos (a república, não o presidente, está bem de ver...) agora já não se aflige com esta política "cega" de combate ao deficit, sem se pensar em que há vida para além das preocupações do danado do deficit.

Será que, entre outros, o senhor presidente da república, dorme toda a noite de um sono só?

Imperativo é que venha explicar-se, sr. presidente socialista, Sem demora. Vossa Exelência deve essa explicação aos seus compatriotas. Trata-se mesmo de uma explicação que envolve a sua honra pessoal, de cidadão, conjunturalmente a exercer cargo de tamanha responsabilidade.

Mudando de assunto e para terminar:

Coerência, muito coerência, e, acima de tudo, decência, na política também, precisa-se! Muito.
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